quarta-feira, 18 de julho de 2007

Manias

Nos anos 80, não existia uma só criança que não tivesse coleção de alguma coisa. As meninas colecionavam papéis de carta, os meninos amontoavam nas estantes pilhas e pilhas de latinhas de cerveja e refrigerante.

As crianças mais saidinhas guardavam caixinhas de cigarros, herdadas dos pais. As mais sóbrias preferiam os selos. As mais ricas faziam inveja com suas coleções de brinquedos. Isso, claro, as crianças normais.

Meu primo Nando* também gostava de colecionar. Gostava e gosta até hoje, visto a sua coleção de DVDs, camisas, gravatas, canetas, chaveiros, cachorros. Tudo devidamente numerado, nomeado e catalogado.

Mas o que nem todo mundo sabe é que quando o Nando era criança sua coleção preferida era a de canudinhos plásticos. Sim, daqueles que a gente coloca nas garrafas de refrigerante quando vai a uma lanchonete. Meu tio até tentou persuadir o menino e lhe trazia um carrinho novo da Matchbox toda semana. Só que todos tinham o mesmo destino: uma caixa velha de sapato no fundo do armário.

O que enchia o coração do Nando de orgulho era a coleção de canudos. Conseguidos um a um, no início, em uma árdua procura nas lanchonetes, padarias, pizzarias e sorveterias:

- Tem canudo?

E o Nando bebia no bico para poupar o canudinho e levá-lo para casa. Cada um de uma cor diferente. Quando meu primo percebeu que não existiam tantas cores assim no Universo e que a coleção dele não iria tão longe, relaxou e foi buscar os canudos no supermercado.

Aí, ao invés da qualidade, ele passou a se orgulhar da quantidade. Toda moedinha que caía na sua mão servia para comprar um novo pacotinho com mil canudos, todos iguais. Um milheiro de azuis fininhos, um milheiro de brancos com listras vermelhas e as pontas flexíveis.

Então as gavetas de seu quarto ficaram pequenas para tantos canudos e ele resolveu coletar outra coisa, mais fina e que ocupava menos espaço: folhas de papel. As últimas folhas de papel de sua coleção duraram até bem pouco tempo. Isso porque, durante muitos anos, meu primo comprava dezenas de monoblocos e não deixava ninguém usar uma paginazinha sequer.

- Deixa eu desenhar aqui?
- Toca e você morre!


Foi só no começo deste século que o Nando resolveu usar suas folhas, já cursando a segunda faculdade. E até cafezinho ele toma de canudinho.

*Nando é o apelido (óbvio) de Fernando, meu único primo homem em primeiro grau por parte de mãe. É filho de minha tia, de quem herdou o Martin, mas carrega o Nascimento do pai. Irmão caçula da Cláudia e da Flávia, embora tenha completado 30 anos no último mês de junho.

3 comentários:

Anônimo disse...

Podia ser pior, sei lá, presilha de cabelo. Pergunta pra mãe do Richarlyson como isso é ruim...hehehehehehe

Anônimo disse...

Lele, eu coleciono cartão postal até hoje. Sempre que vou nos botecos pego vários para aumentar minha coleção.

Elaine

Cláudia Nascimento disse...

Já deu pra ver que esse blog vai ser bom! hehehe Estórias dessa família é o que não falta. Mas olha lá o que vai dizer, hein! :)