sexta-feira, 27 de julho de 2007

Papai e seu relógio biológico para cumprimentos de elevador

Papai no domingo antes do meio dia:

- Bom almoço de domingo!

Papai no domingo antes das 18h:

- Bom fim de tarde!

Papai no domingo de noite:

- Bom começo de semana!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

125 anos

A bisavó Dolores nasceu na região de Extremadura, na província de Cáceres, uma das mais pobres da Espanha. Vivia com meu bisavó Carlos, também extremeño, na aldeia de Fresnedoso de Ibor, com quem se casou aos vinte e poucos anos. Depois veio para o Brasil carregando dois filhos debaixo dos braços: Urbana e Abdón, meu avô. Isso por volta de 1905, quando vovô tinha só dois anos de idade.

Por alguns anos, bisavó Dolores e bisavô Carlos tentaram a vida na lavoura como imigrantes, na região de Olímpia, a noroeste do Estado de São Paulo. Aqui, tiveram seu único filho brasileiro, Ladislau. Depois, quando o vô Abdón já estava com 7 anos, retornaram a Fresnedoso para cuidar da pequena chácara e de uma bodega, onde vendiam azeites e vinhos.

Sem televisão, bisavó Dolores pariu mais uma porção de filhos. Mamãe conheceu cinco deles: seu pai Abdón e seus tios Urbana, Ladislau, Amador e Paulino. Ainda tinha o Tio Tomás e mais dois filhos que morreram na Espanha: Beatriz e João. Estes que a mamãe se lembra porque a memória dela não é lá das melhores, mas a Bisa dizia que tinha tido 11 filhos. Ou dez. Ou 12.

Meu avô e seus irmãos fugiram para a América Latina para não servir o exército porque havia uma batalha em Marrocos onde Francisco Franco era o militar reponsável. Marrocos era possessão espanhola. Depois, muito a contragosto, vieram a bisa e o biso. Levantaram acampamento em Olímpia de novo e lá viveram até o fim da vida.

Aliás, a vida da bisavó Dolores foi a que durou mais em toda a história recente da família. Viveu até os 100 anos, completados no dia 21 de maio de 1982, mesmo ano do meu nascimento. Foi quando teve sua primeira festa de aniversário e também a primeira vez que recebeu flores, de uma vizinha.

Naquela época, mamãe estava grávida de mim e tinha certeza que seria um menino. Talvez isso explique o meu jeito delicado e a extrema sensibilidade com que enfrento certas situações.

- Será uma menina e eu não irei conhecer - profetizava a bisa.

Hoje, no Dia da Avó, faz 25 anos de seu falecimento.

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No seu enterro, meu irmão tinha pouco mais de um ano e começou a cantar os parabéns quando viu as velas acesas.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Manias

Nos anos 80, não existia uma só criança que não tivesse coleção de alguma coisa. As meninas colecionavam papéis de carta, os meninos amontoavam nas estantes pilhas e pilhas de latinhas de cerveja e refrigerante.

As crianças mais saidinhas guardavam caixinhas de cigarros, herdadas dos pais. As mais sóbrias preferiam os selos. As mais ricas faziam inveja com suas coleções de brinquedos. Isso, claro, as crianças normais.

Meu primo Nando* também gostava de colecionar. Gostava e gosta até hoje, visto a sua coleção de DVDs, camisas, gravatas, canetas, chaveiros, cachorros. Tudo devidamente numerado, nomeado e catalogado.

Mas o que nem todo mundo sabe é que quando o Nando era criança sua coleção preferida era a de canudinhos plásticos. Sim, daqueles que a gente coloca nas garrafas de refrigerante quando vai a uma lanchonete. Meu tio até tentou persuadir o menino e lhe trazia um carrinho novo da Matchbox toda semana. Só que todos tinham o mesmo destino: uma caixa velha de sapato no fundo do armário.

O que enchia o coração do Nando de orgulho era a coleção de canudos. Conseguidos um a um, no início, em uma árdua procura nas lanchonetes, padarias, pizzarias e sorveterias:

- Tem canudo?

E o Nando bebia no bico para poupar o canudinho e levá-lo para casa. Cada um de uma cor diferente. Quando meu primo percebeu que não existiam tantas cores assim no Universo e que a coleção dele não iria tão longe, relaxou e foi buscar os canudos no supermercado.

Aí, ao invés da qualidade, ele passou a se orgulhar da quantidade. Toda moedinha que caía na sua mão servia para comprar um novo pacotinho com mil canudos, todos iguais. Um milheiro de azuis fininhos, um milheiro de brancos com listras vermelhas e as pontas flexíveis.

Então as gavetas de seu quarto ficaram pequenas para tantos canudos e ele resolveu coletar outra coisa, mais fina e que ocupava menos espaço: folhas de papel. As últimas folhas de papel de sua coleção duraram até bem pouco tempo. Isso porque, durante muitos anos, meu primo comprava dezenas de monoblocos e não deixava ninguém usar uma paginazinha sequer.

- Deixa eu desenhar aqui?
- Toca e você morre!


Foi só no começo deste século que o Nando resolveu usar suas folhas, já cursando a segunda faculdade. E até cafezinho ele toma de canudinho.

*Nando é o apelido (óbvio) de Fernando, meu único primo homem em primeiro grau por parte de mãe. É filho de minha tia, de quem herdou o Martin, mas carrega o Nascimento do pai. Irmão caçula da Cláudia e da Flávia, embora tenha completado 30 anos no último mês de junho.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Nomes e apelidos

Eu sempre fui a única Leonor da classe porque se esse nome um dia esteve na moda deve ter sido por meados de 189o. Nunca conheci ou soube de uma Leonor que tivesse menos de 80 anos e me acostumei a sempre ouvir um "É o nome de minha tia-avó" toda a vez que contava como me chamava.

No começo não foi nada fácil. Me lembro do trauma que eu tinha toda vez que a professora fazia a chamada ou falava meu nome na brincadeira de roda:

- Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar, eu tirava a Leonor do fundo do mar...

E vinha uma dor forte no fundo do peito.

Quando era pequenininha, ainda no pré, eu queria me chamar Ana. Simples, só três letras. Não conseguia entender como a minha mãe podia ter me batizado Leonor se existia A-N-A. A solução era dizer o apelido:

- Pode me chamar de Lelê!

Foi dado pelo meu irmão ainda pequenino. O Rodrigo não tinha nem dois anos quando nasci e mal sabia falar. Então era "nenê" para lá e "nenê" para cá. Minha mãe logo percebeu que isso viraria um apelido e pensou:

- Minha filha ficará velhinha e só será chamada de Dona Nenê. Ri-dí-cu-lo.

Mamãe pensava mesmo na minha velhice, visto que meu nome será perfeito quando eu me tornar uma tia-avó. Aí ensinou meu irmão a me chamar de Lelê e o apelido pegou.

Foi já na adolescência que passei a ouvir meu nome de maneira diferente. Naquela fase umbiguista, onde a gente se sente mais especial do que os outros, únicos. E eu era mesmo a única Leonor, o que fazia todos lembrarem de mim e do meu nome esquisito anos depois.

O nome completo pode parecer pior: Leonor Maria Martin de Macedo. Uma porção de EMES e um Maria ainda por cima. Eu gosto de Maria, mas só Maria. No máximo um Maria Luíza, porque Luíza combina até com paçoca.

O Martin é da família da minha mãe, o Macedo é da família do meu pai. Espanhol com Português, o que me faz ter uma quantidade de pêlos aceitável pela Vigilância Sanitária, porque os espanhóis quase não têm pêlos pelo corpo. Quanto pelo nessa frase, meu deus.

Leonor é o nome da minha avó, mãe da mamãe. Daí que veio a idéia de batizar uma criança com nome de avó. Quando mamãe estava grávida de mim, pensava em me chamar de Juliana, mas com a pronuncia espanhola, o que me renderia um Ruliana. Deve ser desejo de grávida. Só que as pessoas acabariam me chamando de Juliana com jota mesmo porque moramos no Brasil e Juan (Ruan) vira Juão.

Não cheguei a conhecer a vovó Leonor, ela morreu antes do meu nascimento. Ainda nova, por uma barberagem médica. Então mamãe quis fazer uma homenagem, só que meu avô não gostou da idéia:

- Toda vez que olhar para sua filha vou lembrar da minha esposa e chorar de saudade.

Por isso o nome composto, Leonor Maria, já que ele poderia me chamar de Maria. Por coincidência, Maria era o primeiro nome de minha avó paterna. Dona Maria Stela. Aí eu fiquei com o nome das minhas duas avós como herança.

Desde o primeiro dia do meu nascimento, vovô Abdon nunca me chamou de Maria. Era só Leonorzinha, seguido de um sorriso largo no rosto. E eu penso, 24 anos depois - quase 25 -, que eu não poderia ter sido batizada de maneira diferente. Ser Ana seria muito sem-graça.

***

Essa é a história original do meu nome, mas para simplificar eu ando contando por aí que a Dona Rose me batizou com o nome da mãe de Miguel de Cervantes (o escritor de Don Quixote). O pai de Cervantes se chamava Rodrigo, nome do meu irmão. Faz todo o sentido.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Sabedoria popular

A educação vem do berço. Não coloca a mãe no meio. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. A quem Deus não deu filhos, deu o diabo sobrinhos. Parente é serpente. Se cunhado fosse bom não começava com cu e não tinha unha no meio. Quem meu filho beija, minha boca adoça. Filho é bom, mas dura. Sogra não é parente, é castigo. As mães são o partido mais conservador do mundo. Felicidade é ter uma família grande, carinhosa, amorosa, morando em outra cidade. Filho é bom, mas dura. Casarás, amansarás e te arrependerás. De pequenino é que se torce o pepino. Filho de peixe, peixinho é. Deus deu-nos nossos parentes, mas teve a bondade de nos deixar escolher nossos amigos.