quinta-feira, 26 de julho de 2007

125 anos

A bisavó Dolores nasceu na região de Extremadura, na província de Cáceres, uma das mais pobres da Espanha. Vivia com meu bisavó Carlos, também extremeño, na aldeia de Fresnedoso de Ibor, com quem se casou aos vinte e poucos anos. Depois veio para o Brasil carregando dois filhos debaixo dos braços: Urbana e Abdón, meu avô. Isso por volta de 1905, quando vovô tinha só dois anos de idade.

Por alguns anos, bisavó Dolores e bisavô Carlos tentaram a vida na lavoura como imigrantes, na região de Olímpia, a noroeste do Estado de São Paulo. Aqui, tiveram seu único filho brasileiro, Ladislau. Depois, quando o vô Abdón já estava com 7 anos, retornaram a Fresnedoso para cuidar da pequena chácara e de uma bodega, onde vendiam azeites e vinhos.

Sem televisão, bisavó Dolores pariu mais uma porção de filhos. Mamãe conheceu cinco deles: seu pai Abdón e seus tios Urbana, Ladislau, Amador e Paulino. Ainda tinha o Tio Tomás e mais dois filhos que morreram na Espanha: Beatriz e João. Estes que a mamãe se lembra porque a memória dela não é lá das melhores, mas a Bisa dizia que tinha tido 11 filhos. Ou dez. Ou 12.

Meu avô e seus irmãos fugiram para a América Latina para não servir o exército porque havia uma batalha em Marrocos onde Francisco Franco era o militar reponsável. Marrocos era possessão espanhola. Depois, muito a contragosto, vieram a bisa e o biso. Levantaram acampamento em Olímpia de novo e lá viveram até o fim da vida.

Aliás, a vida da bisavó Dolores foi a que durou mais em toda a história recente da família. Viveu até os 100 anos, completados no dia 21 de maio de 1982, mesmo ano do meu nascimento. Foi quando teve sua primeira festa de aniversário e também a primeira vez que recebeu flores, de uma vizinha.

Naquela época, mamãe estava grávida de mim e tinha certeza que seria um menino. Talvez isso explique o meu jeito delicado e a extrema sensibilidade com que enfrento certas situações.

- Será uma menina e eu não irei conhecer - profetizava a bisa.

Hoje, no Dia da Avó, faz 25 anos de seu falecimento.

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No seu enterro, meu irmão tinha pouco mais de um ano e começou a cantar os parabéns quando viu as velas acesas.

Um comentário:

Anônimo disse...

são 25 anos de muitas saudades!Vovó era daquelas pessoas especiais q devem nascer uma a cada século, se tanto...Com ela aprendemos q se deve "tapar e perdonar" e mais tantas outras coisas.Com 100 anos ela tinha muito mais memória q todos os netos dela, inclusive eu.